É a primeira vez que, sem ser em troca de governo, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica deixam simultaneamente o cargo
Publicado 30/03/2021 13:18 | Editado 30/03/2021 15:35
Contrariados com a escalada autoritária do governo Jair Bolsonaro, os comandantes das três Forças Armadas deixaram seus cargos nesta terça-feira (30). Embora o Ministério da Defesa tenha anunciado, em nota, a saída de Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica), a decisão foi tomada pelos comandantes, que expõem publicamente um racha sem precedentes entre militares e Bolsonaro.
“O Ministério da Defesa (MD) informa que os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica serão substituídos. A decisão foi comunicada em reunião realizada nesta terça-feira (30), com presença do Ministro da Defesa nomeado, Braga Netto, do ex-ministro, Fernando Azevedo, e dos Comandantes das Forças”, limitou-se a dizer a Defesa, omitindo as razões da inédita reviravolta.
Nesta segunda, Fernando Azevedo e Silva se demitiu do posto de ministro da Defesa, sendo substituído pelo general da reserva Walter Souza Braga Netto, que chefiava a Casa Civil. Segundo a Folha de S.Paulo, a relação entre Azevedo e o presidente se deteriorou na semana passada, “quando Bolsonaro voltou a insinuar que queria o apoio do Exército para aplicar medidas de exceção como o estado de defesa em unidades da Federação que aplicam lockdowns contra a pandemia”.
De imediato, Pujol declarou que deixaria o Exército, enquanto Barbosa e Bermudez disseram que colocariam os cargos à disposição. A pedido de Braga Netto, qualquer decisão foi adiada para a manhã desta terça.
É a primeira vez que, sem ser em troca de governo, os comandantes das três Forças Armadas deixam simultaneamente o cargo. Segundo o Blog do Camarotti, a saída de Azevedo e Silva foi recebida com preocupação por integrantes da ativa e da reserva das Forças Armadas. Um general da reserva enxergou o movimento como um sinal de que o Bolsonaro deseja ter maior influência política nos quartéis.
Em novembro do ano passado, o comandante do Exército, Edson Pujol, afirmou que os militares não querem “fazer parte da política, muito menos deixar a política entrar nos quartéis”. Na ocasião, o vice-presidente Hamilton Morão, também general quatro estrelas da reserva, reforçou a posição de Pujol.
Já a jornalista Eliane Cantanhêde, do Estadão, reforça que os três comandantes que deixam o governo queriam “deixar claro que não darão um passo que possa contrariar a Constituição ou caracterizar ingerência nos outros Poderes, o Judiciário e o Legislativo”.
A conclusão de Cantanhêde: “Se havia a sensação na sociedade de que os militares são um monobloco, pensam todos da mesma forma, são todos a favor de Bolsonaro e estão todos dispostos a seguir com ele em qualquer aventura antidemocrática, essa sensação evaporou com a posição firme do general Azevedo e Silva a favor da legalidade e da institucionalidade. Há resistência nas três forças armadas, sim, a qualquer tipo de projeto autoritário. Essa é uma grande novidade, a ser comemorada – e mantida”.
Da Redação, com agências
Nenhum comentário:
Postar um comentário